O
Sínodo Geral rejeitou a ordenação de mulheres como bispas, apesar das
sacerdotisas representarem um terço do clero da igreja. O arcebispo de
Canterbury, Rowan Williams, disse que a Igreja “perdeu certa
credibilidade".
Em um sinal do aprofundamento da crise na Igreja
Anglicana após sua rejeição da nomeação de mulheres como bispas, seu
líder espiritual disse na quarta-feira (21) que a Igreja “sem dúvida
perdeu certa credibilidade” e tinha “muitas explicações a dar” às
pessoas que consideram suas deliberações opacas.
O arcebispo de
Canterbury, Rowan Williams, falou após uma reunião de emergência dos
bispos, convocada para debater o resultado por pequena margem da votação
de terça-feira (20) do Sínodo Geral, que rejeitou a ordenação de
mulheres como bispas, apesar das sacerdotisas representarem um terço do
clero da Igreja Anglicana. As sacerdotisas ocupam altas posições como
cônegas e arquidiáconas, e algumas esperavam garantir a nomeação como
bispas em 2014 se a mudança fosse aprovada.
A votação pareceu
representar uma rejeição direta aos esforços reformistas de Williams
durante seus 10 anos como chefe da Igreja e um enorme revés para uma
campanha pela mudança, que tem sido debatida de modo intenso e
frequentemente amargo ao longo da última década.
Mais de 70% dos
446 votos do sínodo foram favoráveis à abertura do episcopado da Igreja
para as mulheres. Mas os procedimentos de votação do sínodo exigem uma
maioria de dois terços em cada uma das três “casas”: bispos, clero e
leigos. Apesar dos bispos e o clero terem atendido esse critério, a
votação entre os leigos ficou seis votos aquém da maioria de dois
terços.
A Igreja Anglicana é considerada uma Igreja estabelecida,
o que significa que é reconhecida pela lei como representante da
religião oficial, desfruta de privilégios especiais e é apoiada pelas
autoridades civis.
Alguns parlamentares sugeriram na quarta-feira
que a votação no sínodo criaria uma crise nas relações entre a Igreja e
o Estado, já que a rejeição de mulheres como bispas contradiz as leis
nacionais de igualdade de gênero. O primeiro-ministro David Cameron, já
em atrito com a Igreja em torno dos planos do governo para legalizar o
casamento de mesmo sexo no ano que vem, pediu às autoridades da Igreja
na quarta-feira para encontrarem uma saída para o impasse.
“Está
muito claro que é o momento certo para mulheres serem ordenadas bispas,
como já é há muitos anos. Eles precisam seguir em frente com isso e
implantar o programa”, ele disse ao Parlamento na quarta-feira. “Mas é
preciso respeitar as instituições individuais e a forma como funcionam, e
ao mesmo tempo lhes dar uma forte cutucada.”
Falando na
quarta-feira sobre o sínodo de modo incomumente ambíguo, Williams
declarou: “Nós temos, para colocar de modo bem claro, muitas explicações
a dar”.
“Quaisquer que sejam os motivos para a votação de ontem,
qualquer que seja o princípio teológico com base no qual as pessoas
agiram e falaram, permanece o fato de que grande parte dessa discussão
não é inteligível para a sociedade como um todo.”
“Pior do que
isso, faz parecer que estamos intencionalmente cegos a algumas das
tendências e prioridades da sociedade”, ele disse, parecendo reconhecer
as críticas de dentro de suas fileiras de que a Igreja –que já enfrenta
um encolhimento das congregações– está perdendo ou já perdeu relevância
na sociedade moderna.
“Em consequência de ontem, a Igreja sem dúvida perdeu certa credibilidade em nossa sociedade”, disse.
“A
cada dia que fracassamos em resolver esta questão de modo que nos
agrade à Igreja Anglicana, é mais um dia em que perdemos credibilidade
aos olhos da população." “Nós não podemos, como eu disse ontem em meus
comentários, conviver teologicamente por tempo indeterminado com a
anomalia de termos sacerdotisas que não podem ser consideradas bispas.”
O
arcebispo deverá se aposentar no mês que vem, após passar grande parte
do seu tempo como líder da Igreja da Inglaterra e líder simbólico da
Comunhão Anglicana, elaborando acordos complexos visando impedir um
cisma entre os reformistas e os tradicionalistas.
“Ontem não produziu nada para reduzir a polarização em nossa Igreja”, disse Williams na quarta-feira.
O
arcebispo já tinha reconhecido o fracasso em conseguir uma
reconciliação duradoura, mas a votação de terça-feira pareceu lhe roubar
uma oportunidade final de salvar algo de seu legado.
“Um dia
muito triste”, disse o reverendíssimo Justin Welby, o sucessor
recém-nomeado do arcebispo, em uma mensagem pelo Twitter. “Acima de tudo
para as sacerdotisas e apoiadores, é preciso cercar todos com oração,
amor e cooperação com nosso Deus salvador.”
Tanto Williams quanto
Welby apoiam as bispas. A votação de terça-feira deixou Welby na
posição de assumir uma Igreja aparentemente incapaz de resolver uma
questão que é apenas um dos debates contenciosos ligador a gênero e
sexualidade.
Desde que a Igreja Anglicana se separou de Roma sob
Henrique 8º há quase 500 anos, apenas homens são nomeados bispos, e o
resultado do sínodo de dois dias foi visto por ambos os lados como um
divisor de águas na luta maior pelo futuro da Igreja Anglicana.
No
encerramento do debate no sínodo, uma importante ministra da Igreja
Anglicana, a cônega Rosie Harper, disse que uma rejeição “seria vista
inevitavelmente como o ato de uma Igreja moribunda, mais casada ao
passado do que comprometida com a esperança pelo futuro”.
Mas em
uma entrevista de rádio na quarta-feira, John Sentamu, o arcebispo de
York que é o segundo na hierarquia da Igreja, disse que esta permanece
“bem” viva.
“Nesta manhã as pessoas estão dizendo que a Igreja
cometeu suicídio, que a Igreja está morta”, ele disse ao entrevistador
da BBC. “Bem, pessoas mortas não conversam. Nós estamos conversando, nós
não cometemos suicídio, nós estamos bem vivos.”Fonte: The New York Times
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