O
Novo Testamento conduz-nos ao clímax da obra redentora de Deus, porque
nos apresenta o Messias, Jesus Cristo, e nos fala do começo da sua
igreja. Os escritos de Mateus, Marcos, Lucas e João falam-nos do
ministério de Jesus. Esses escritores foram testemunhas oculares da vida
do Mestre, ou registraram o que testemunhas oculares lhes contaram,
todavia não escreveram dele uma biografia completa. Tudo quanto
registraram, realmente aconteceu, porém concentraram-se no ministério de
Jesus, e deixaram aqui e acolá algumas lacunas na história da vida do
Divino Mestre. Os homens que escreveram os evangelhos tinham em mira
explicar a pessoa e a obra de Jesus, registrando o que ele fez e
disse. E cada autor apresenta uma perspectiva ligeiramente diferente
acerca de Jesus e de suas obras. Os autores dos Evangelhos não tentaram
relatar todos os eventos da meninice de Jesus, porque não era esse o
motivo de escreverem. Não procuraram dar-nos, tampouco, registro da vida
cotidiana. Eles se ativeram ao que é pertinente à salvação e ao
discipulado.
O NT é a única fonte de informação substancial do primeiro século que
temos a respeito da vida de Jesus. A literatura judaica ou romana
daquele tempo quase não o menciona. Flávio Josefo, historiador judeu do
primeiro século, escreveu um livro sobre a história do judaísmo,
procurando mostrar aos romanos e gregos que essa religião não não se
distanciava muito do estilo de vida deles. Disse ele: “Ora, havia por
esse tempo Jesus, um homem sábio, se for legítimo chamá-lo de homem,
pois ele era um operador de obras maravilhosas, um mestre de quem os
homens recebem a verdade com prazer. Atraiu para si muitos dos judeus e
muitos dos gentios, ele era [o] Cristo. E quando Pilatos, por sugestão
dos principais homens entre nós, condenou-o à cruz, os que o amavam a
princípio não o abandonaram; pois ele apareceu-lhes vivo de novo no
terceiro dia; conforme haviam predito os profetas divinos essas e dez
mil outras coisas maravilhosas concernentes a ele. E o grupo de cristão
assim chamado em virtude de seu nome, não se extinguiu até hoje.” (
Flavius Josephus, Antiquities of the Jews, Livro XVIII, cap. iii, Sec
3.)
Os judeus dos dias de Jesus viviam na expectativa de grandes
acontecimentos. Os romanos os oprimiam, mas eles estavam seguramente
convictos de que o Messias viria em breve. Os variados grupos retratavam
diferentemente o Messias, mas seria difícil, naquele tempo, encontrar
um judeu que vivesse sem alguma forma de esperança. Alguns tinham a
verdadeira fé e aguardavam ansiosos a vinda de um Messias que seria seu
Salvador espiritual.
Por volta do ano 6 aC, o sacerdote Zacarias oficiava no templo em
Jerusalém. Queimava incenso no altar durante a oração vespertina quando
lhe apareceu um anjo anunciando para breve o nascimento do primeiro
descendente do sacerdote, um menino. Esse filho prepararia o caminho
para o Messias; o espírito e o poder de Elias repousariam sobre ele
(Lc3.3-6). Seus pais deviam chamar-lhe João. Zacarias era um homem
verdadeiramente piedoso, mas foi difícil crer no que ouvira; como
conseqüência, ficou mudo até que Isabel (sua esposa) deu à luz. Nasceu o
filho, foi circuncidado, e recebeu o nome segundo as instruções de
Deus. Depois disso Zacarias readquiriu a voz e louvor ao Senhor.
Três meses antes do nascimento de João, o mesmo anjo (Gabriel) apareceu a
Maria. Esta jovem era noiva de José, carpinteiro descendente de Davi
(Is 11.1). O anjo disse a Maria que ela conceberia um filho por obra do
ES, e que ela daria ao menino o nome de Jesus (Lc 1.32-35; Mt 1.21). Ela
aceitou a mensagem com grande mansidão, contente por estar vivendo na
vontade de Deus (Lc 1.38).
Gabriel também lhe disse que sua prima Isabel estava grávida, e Maria
apressou-se a partilhar o júbilo mútuo. Ao encontrarem-se, Isabel saudou
a Maria como a mãe de seu Senhor (Lc 1.39-45). Maria irrompeu num
cântico de louvor (Lc 1.46-56), ela ficou três meses com Isabel.
José, o marido prometido a Maria, ficou totalmente chocado com o que
parecia ser fruto de um terrível pecado (Mt 1.19) e resolveu abandoná-la
secretamente. Então, em sonho, um anjo lhe explicou a situação, e
instruiu-o a casar-se com Maria, sua pretendida esposa, como planejado.
Herodes o Grande reinava na Judéia quando Jesus nasceu (Mt 2.1). Em
suas Antigüidades, Josefo escreve que houve um eclipse da lua pouco
antes da morte de Herodes (Livro XVII, cap xiii, Séc. 2). Esse eclipse
poderia ser qualquer um dos três ocorridos nos anos de 5 e 4 aC; mas
provável alternativa é 12 de março de 4 aC. Além do mais, o historiador
judeu declara que o rei morreu pouco antes da Páscoa (Livro XVII, cap
vi, Séc. 4) e a Páscoa ocorreu no dia 11 de abril do ano 4 aC. Assim,
devemos concluir que Herodes morreu nos primeiros dias de Abril deste
ano.
Os magos do Oriente vieram adorar o Messias de Deus, mas uma vez que
voltaram sem dar informação alguma a Herodes, ele mandou que seus
soldados matassem todos os meninos de Belém de dois anos para baixo (Mt
2.16). Isto quer dizer que Jesus nasceu no ano 6 ou 5 aC, e foi levado
para o Egito no ano 4 aC.
Não sabemos com exatidão em que mês e dia Jesus nasceu. A data 25 de
dezembro não é muito provável. A igreja de Roma escolheu esse dia para
celebrar o nascimento de Cristo, já no segundo ou terceiro século, a fim
de obscurecer um dia santo de origem pagã, comemorado tradicionalmente
neste dia. Anteriormente, a igreja Ortodoxa Oriental decidira honrar o
nascimento de Cristo no dia 6 de janeiro, a epifania. Mas por
estabelecer a data no inverno? As probabilidades de que os pastores
cuidassem de seus rebanhos à noite, nas colinas, são mínimas. É mais
provável que Jesus tenha nascido no outono ou na primavera.
Conhecemos cinco eventos da infância de Jesus, são eles:
1) Circuncisão – De acordo com a lei judaica, ele foi circuncidado ao oitavo dia e recebeu o nome de Jesus (Lc 2.21).
2) Apresentado no templo – Ele foi apresentado no templo para selar a
circuncisão e também foi “redimido” pelo pagamento dos cinco ciclos.
Para efeito de sua purificação, Maria fez a oferta dos pobres (Lv 12.8;
Lc 2.24).
3) Visita dos Magos – Um grupo de “sábios” apareceu em Jerusalém,
inquirindo acerca do nascimento de um “rei dos judeus”. (Mt 2.2).
4) Fuga para o Egito – Deus disse a José que fugisse para o Egito com
toda a família. Após a morte de Herodes, José voltou, e fixou residência
em Nazaré.
5) Visita ao Templo – Quando tinha aproximadamente 12 anos (Lc 2.41-52)
foi com os pais ao templo em Jerusalém e oferecer sacrifício. Enquanto
estava ali, Jesus conversou com os dirigentes religiosos sobre a fé
judaica. Ele revelou extraordinária compreensão do verdadeiro Deus, e
suas respostas deixaram-nos admirados. Mais tarde, de volta para casa,
os pais de Jesus notaram a sua ausência. Encontraram-no no templo, ainda
conversando com os especialistas judaicos.
A Bíblia cala-se até ao ponto em que nos apresenta os acontecimentos que
deram início ao ministério de Jesus, tendo ele cerca de trinta anos.
Primeiro vemos João Batista deixando o deserto e pregando nas cidades ao
longo do rio Jordão, instando com o povo a que se preparasse para
receber o Messias (Lc 3.3-9). João nasceu no seio de uma família piedosa
e cresceu para amar e servir fielmente a Deus. Deus falava por meio de
João, e multidões acudiam para ouvi-lo pregar. Dizia-lhes que se
voltassem para Deus e começassem a obedecer-lhe. Ao ver Jesus, ele
anunciou que este homem era o “…Cordeiro de Deus, que tira o pecado do
mundo” (Jo 1.29). João batizou a Jesus; e ao sair Jesus das águas, Deus
enviou o Espírito Santo em forma de pomba, que pousou sobre ele.
O ES guiou Jesus ao deserto, e aí ele permaneceu sem alimentar-se
durante quarenta dias. Enquanto ele se encontrava nessa situação de
enfraquecimento, o diabo veio e procurou tentá-lo de vários modos.
Jesus recusou as propostas do diabo e ordenou que ele se retirasse.
Então vieram anjos que o alimentaram e confortaram.
A princípio Jesus tinha a estima do povo. Na região do mar da Galiléia
ele foi a uma festa de casamento e transformou água em vinho. este foi o
primeiro de seus milagres que a Bíblia menciona. Este milagre, da
mesma forma que os últimos, demonstrou que ele era verdadeiramente Deus.
Da Galiléia ele foi para Jerusalém onde expulsou do templo um grupo de
religiosos vendedores ambulantes. Pela primeira vez ele asseverou de
público sua autoridade sobre a vida religiosa do povo, o que fez que
muitos dirigentes religiosos se voltasse contra ele.
Um desses dirigentes, Nicodemos, viu que Jesus ensinava a verdade acerca
de Deus. Certa noite ele foi ter com Jesus e lhe perguntou como poderia
entrar no reino de Deus, que é o reino de redenção e salvação. (Jo 3.3)
Quando João Batista começou a pregar e atrair grandes multidões na
Judéia, Jesus voltou para a Galiléia. Aí ele operou muitos milagres e
grandes multidões o cercavam. Infelizmente, as multidões estavam mais
interessadas nos seus milagres do que nos seus ensinos.
Não obstante, Jesus continuou ensinando. Ele entrava nos lares,
participava das festas públicas, e adorava com os outros judeus em suas
sinagogas. Denunciou os dirigentes religiosos do seu tempo porque
exibiam uma fé hipócrita. Ele não rejeitou a religião formal deles; pelo
contrário, Jesus respeitava o templo e a adoração que aí se prestava
(Mt 5.17-18). Mas os fariseus e outros dirigentes não viram nele o
Messias e não cuidaram de ser salvos do pecado. Além do mais, não
satisfeitos com o que Deus lhes revelara no AT, continuaram fazendo-lhe
acréscimos e revisando-o. Acreditavam que sua versão das Escrituras,
examinada nos seus mínimos detalhes, dava-lhes a única religião
verdadeira. Jesus chamou-os de volta às primitivas palavras de Deus. Ele
era cuidadoso na sua forma de citar as Escrituras, e incitava seus
seguidores a entendê-las melhor. Ensinava que o conhecimento básico das
Escrituras mostraria que a vontade de Deus era que as pessoas fosse
salvas mediante a fé nele.
Perto da Galiléia, Jesus operou seu mais surpreendente milagre até
então. Tomou sete pães e dois peixes, abençoou-os e partiu-os em pedaços
suficientes para alimentar quatro mil pessoas! Mas este milagre não
atraiu mais gente à fé em Jesus; na verdade, as pessoas se retiraram
porque não podiam imaginar por que e como ele queria que elas “comessem”
seu corpo e “bebessem” seu sangue ( Jo 6.52-66).
Os doze discípulos, porém, permaneceram fiéis, e ele começou a
concentrar seus esforços em prepará-los. Cada vez mais ensinava-lhes
acerca de sua futura morte e ressurreição, explicando-lhes que eles
também sofreriam a morte se continuassem a segui-lo.
Esta atitude de Jesus o leva ao fim da sua vida na terra. Judas
Iscariotes, um dos doze, traiu-o, entregando-o aos líderes de Jerusalém,
que lhe eram hostis, e eles pregaram Jesus numa cruz de madeira entre
criminosos comuns. Mas ele ressuscitou e apareceu a muitos de seus
seguidores, exatamente como havia prometido, e deu instruções finais aos
seus discípulos mais íntimos. Enquanto o observavam subir ao céu,
apareceu um anjo e disse que eles os veriam voltar do mesmo modo. Em
outras palavras, ele voltaria de modo visível e em seu corpo físico.