Nossa vida é
feita de escolhas. Escolhas que fizeram para nós, e escolhas que nós
fizemos e continuamos a fazer, diariamente, de diferentes modos e sobre
diferentes instâncias da vida...
“Mas, eu não
escolhi nascer”, diz alguém, sempre que precisa culpar outro alguém (no
caso, seus pais) por quão miserável é a sua existência. É verdade, essa
pessoa (que posso ser eu mesmo ou você) não escolheu nascer – eu já
disse, há algumas escolhas às quais nos submetemos sem poder participar
nem retrucar, e o nascimento é uma delas. Por conseguinte, pode-se dizer
que também não escolhemos nosso sexo (nem o escolheram nossos pais; por
mais que preferissem esse ou aquele de antemão, foi uma combinação
genética e natural quem “escolheu” por nós), cor, etnia, lugar no qual
nascemos, crescemos, nem nossa árvore genealógica, família, classe
social, pátria (alguns incluiriam aqui até a opção sexual) e, no
princípio, até mesmo o time de futebol e a religião...
Diante disso
tudo, a consideração que nos resigna a uma impossibilidade de fazer
escolhas iniciais está correta. Mas afinal, onde entra o meu poder de
escolha?
No processo
de nosso crescimento, desde a infância, pode parecer que não, mas nós
fizemos escolhas. Por exemplo, fui eu quem, certa vez, escolheu levar
minha irmã bem cedo pra fora de casa, em busca de nossa mãe, enquanto
meu pai dormia... uma escolha que resultou em seu atropelamento. Por sua
vez, foi ela quem escolheu resoluta a soltar de minha mão e correr
independente pela rua até que o carro a atingisse. Por anos, pensei (e
me culpei por assim pensar) que tudo foi em função de minha escolha,
como irmão mais velho; mas envolveu a dela também... Por mais imaturas,
infantis e até inconseqüentes, todos os que têm pulso de vida,
inteligência e corpo, desde muito cedo, fazem escolhas, e usam-nos como
bem entendem...
Eu posso até
não ter escolhido nascer, mas não posso viver minha vida miserável, pra
sempre culpando outros por sua miséria. Tenho de me perguntar: e depois
de tudo, quem escolheu viver assim? Quem se limitou a esse modo de
vida? É preciso coragem para assumir, e carregar seu próprio fardo.
Hoje, quando
olho para trás, e vejo tanta coisa que poderia ter dado errado em minha
vida simplesmente porque deram errado na vida de outros a meu redor, em
função das escolhas que fizeram, percebo que um contorno invisível da
graça divina sempre esteve ao meu lado e, mesmo sem que me desse conta,
me auxiliou nas escolhas que me fizeram ser quem eu sou hoje. Devo isso
às escolhas? Sim, sobretudo às escolhas que levaram Deus e suas palavras
de benção em consideração. As erradas também me ajudaram de alguma
forma, pelo menos a não errar mais do mesmo jeito...
O texto de
Deuteronômio 30.15-20 é um bom exemplo desse exercício de liberdade de
escolha que inerente e que desafia a cada pessoa: “Vê que proponho,
hoje, a vida e o bem, a morte e o mal... os céus e a terra tomo, hoje,
por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a benção e a
maldição”. Deus expõe diante de seu povo a possibilidade de escolha,
todos os dias, por uma dessas realidades. A vida e a morte, segundo esse
texto, são potencialidades inerentes às decisões que fazemos todos os
dias, das perguntas que tocam nossa autoconsciência ética e espiritual:
com esse ato, estou optando pela vida ou pela morte? Estou matando ou
dando vida? Destruindo ou construindo? Pintando ou borrando o quadro?
Deus é
bastante claro sobre quais são as suas preferências. Ele prefere que
optemos por seguir seus caminhos, ouvir à sua voz, dar atenção à sua
Palavra, porque estes são meios de vida e não de morte, de benção e não
de maldição. E a dica que o próprio texto dá é, obviamente, um sinal
ofertado pelo “Deus da vida”: “escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu
e a tua descendência” (Dt 31.19).
Escolher a
vida nem sempre é o caminho mais fácil, nem o mais prazeroso; muitas
vezes, é o mais custoso e árduo caminho, que envolve renúncia, fé,
entrega, disposição para o aprendizado e "otras cositas mas"... E quem
foi que disse que seria um “mar de rosas”? Escolhe a vida para que
vivas! E hoje, o que vai ser?
Fonte: Jonathan Menezes em Escrever é Transgredir
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